"Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…" (Antoine de Saint-Exupéry - Trecho de "O Pequeno Príncipe")

domingo, 27 de junho de 2010

Passagem das horas - Álvaro de Campos




"Não sei sentir,não sei ser humano,
não sei conviver de dentro da alma triste,com os homens,meus irmãos na terra.
Não sei ser útil,mesmo sentindo ser prático,quotidiano,nítido.
Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo.
Mas tudo ou nada sobrou ou foi pouco,não sei qual,e eu sofri.
Eu vivi todas as emoções,todos os pensamentos,todos os gestos.
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda a gente.
Mas para toda agente isso foi normal e institivo.
Para mim sempre foi a excepção,o choque,a válvula,o espasmo.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto demais ou de menos.
Seja como for a vida,de tão interessante que é a todos os momentos,
a vida chega a doer,a enjoar,a cortar,a roçar,a ranger,
a dar vontade de dar pulos,de ficar no chão,
de sair para fora de todas as casas,
de todas as lógicas,de todas as sacadas,
e ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos."

Álvaro de Campos

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