"Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…" (Antoine de Saint-Exupéry - Trecho de "O Pequeno Príncipe")

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A manhã a raiar sobre a cidade.

Lembro-me de quando era criança e via,
Como hoje não posso ver,
A manhã a raiar sobre a cidade.
Ela não raiava para mim
mas para a vida
porque então eu, (não sendo consciente)
eu era a vida.
E via a manhã e tinha alegria
Hoje vejo a manhã, tenho alegria
e fico triste.
Eu vejo como via,
mas por trás dos olhos, vejo-me vendo.
E só com isso, se obscurece o sol,
o verde das árvores é velho,
e as flores murcham antes de aparecidas."

Do Livro do Desassossego- Fernando Pessoa

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Nudez...



Sempre fui medieval...
A minha nudez sempre me constrange,
Não me sinto confortável em ver meu reflexo nú no espelho, a minha própria nudez incomoda,
A nudez alheia, fascina, já a minha, não é natural.

Renato de Oliveira Santos

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O DIA EM QUE NASCI...






"Numa quarta-feira de cinzas, dia de ressaca, eu nasci chorando forte e
cresci assim. Hoje o choro é fraco.
A cada dia espero aleluia, promesa de cada quaresma, de cada paixão.
Quantas paixões tive na vida? Aleluias, eu sei. Aleluia, aleluia, aleluia..."

Mabel Velloso


Quem nasce na quarta ferira de cinzas é gente diferente das outras, nasce no meio da ressaca, do tédio, nasci no fim da festa. É gente que sente demais, se acha a margem, comum em demasia, poeta demais, boêmio demais, exagerados, loucos, tristes... Somos demais...